sexta-feira, agosto 29, 2014

Prosa Poética: Distância Que Aproxima



Depois de tanto tempo
Sem ver teu lindos olhos
Percebi que você, pelo jeito,
Andou chorando colorido
E quando você chora
Sinto que tuas lágrimas azuis
Escorrem pelos meus negros olhos 
Somos tão ligados espiritualmente
Que tuas lágrimas, minhas lágrimas
São como estrelas cadentes
Em noites escuras de ilusões
Sinto que você tem andado
Por caminhos tortuosos
E meus pés sangram pelo teu caminhar
Me perdoe se eu parti teu coração
Pois quando o fiz
Foi o meu que ficou em pedaços
E você ainda pergunta
O porquê fico tão distante?
Por que passo tanto tempo sem te ver?
A resposta é tão simples e forte
Como a ligação que nos une
Se eu ficar perto não resistirei
Me entregarei docemente ao abate
Fico longe, assim tenho controle
Daquilo que é incontrolável em mim
Se eu ficar perto você sentirá
O suor frio da minha mão
Se eu ficar perto você ouvirá
As batidas do meu coração
Queria tanto que você entendesse
Que as vezes ficar longe não é suficiente
Para quem ficou perto por tanto tempo
Que as vezes ficar perto não é o bastante
Para quem ficou longe por tanto tempo
E não restará nada a fazer
Além de confessar perdidamente
Que no meu corpo feliz
Só restará teu perfume...

Raimundo Salgado Freire Júnior



domingo, agosto 17, 2014

Prosa Poética: Não Se Morre Quando se Ama




Não se morre quando se ama
Não, não há morte para quem acredita
Na força do amor imortal
Na chama infinita plantada em nós
Centelhas de Deus
Fomos destinados à imortalidade
O corpo apodrece, por certo
Mas a alma imortal, pois imaterial
Sobrevive com todas suas memórias
Todos os seus amores, tudo de bom que plantou
E cada lágrima do Adeus
Será secada na leve brisa da eternidade
Morte, tu já não me assustas
Teu reinado de medo acabou
Vou sorrir da tua cara
E morrer até a vida que vem
Quando chegar o inevitável momento de partir
E eu é que te darei o abraço da morte
Morrer é nascer e renascer sempre
Onde está teu sorriso ò morte?
Onde tua vã vitória sobre a vida?
A morte é uma farsa
O que ocorre é transformação
É a flor que murcha vagarosamente
Transmutando-se em perfume
Perfumando as esperanças
Do que ficaram para trás
Aguardando a sua hora, certa, de partir
Como tudo que nasce, cresce e perece
Como a flor que nasce, brilha e esmaece
Renasceremos no jardim de Deus!


Raimundo Salgado Freire Júnior

quinta-feira, agosto 07, 2014

Prosa Poética: Passeio à Beira-Mar



O amor é como um farol majestoso
Desnudando o meu caminho até você
Aumentando deliciosamente a cada suspiro
Minha insana vontade de te possuir.
Meu coração é um barco a vagar
No rastro da lua desenhado no mar
Nos braços da musa simples e bela
O vento da paixão assopra minha vela
E me vejo invadindo teu corpo
Como as ondas que invadem a praia: 
Com força e repetidamente...
Quando contemplo meu rosto
No espelho cristalino das águas
Os olhos do meu coração
Só conseguem enxergar você
Teus olhos graciosos, tua boca reluzente
Tuas curvas lambidas pelas ondas
Que escorrem pelo teu corpo
E  beijam teus pés em gratidão
E nesses beijos enlouquecidos
Tenho receio que tu te afogues
Mas como pode afogar-se em água
Um coração que arde em amor?
Você, é a musa dos meus poemas
O fogo que acende minhas entranhas
O colo que abriga minha cabeça estranha
A mão que acaricia meus sonhos
Mesmo aqueles mais bisonhos
Eu, Simples vassalo insolente,
Dedicado a teu amor inclemente
A mão que te escreve poesia
O beijo quente que te faz suspirar
A mente que te deseja e fantasia
Num simples passeio à beira-mar.


Raimundo Salgado Freire Júnior

segunda-feira, agosto 04, 2014

Crônica: Morre o Shakespeare do Nordeste



Sempre gostei de comentar com meus amigos leitores contumazes que se o Ariano Vilar Suassuna (1927-2014) tivesse nascido europeu suas peças teatrais seriam comparadas às de Shakespeare e sua obra-prima "O Auto da Compadecida" seria leitura obrigatória em todas as escolas e universidades do mundo, reconhecida como obra de um dos grandes gênios da literatura mundial.

O Auto da Compadecida (1956), peça teatral que o projetou no cenário nacional, é uma síntese da genialidade, criatividade, improvisação, sarcasmo, humor e misticismo característicos à cultura nordestina, notadamente ao teatro de mamulengos, a literatura de cordel, as danças folclóricas e aos desafios ou "pelejas" de violeiros.

Impregnado desses valores iconoclásticos e míticos tão fortemente arraigados na literatura do nordeste, o Auto da compadecida é considerado o texto mais popular do teatro moderno brasileiro e deixa cristalino a principal característica da obra de Ariano: um forte sentimento de regionalismo, de brasilidade de construção e valorização de um identidade cultural nacional legítima, autêntica e conforme as tradições populares.

Ficou gravado na minha memória uma entrevista que assisti de Ariano dando conta que seu amor pela literatura surgiu na infância quando passava o tempo na imensa biblioteca particular de seu pai (João Suassuna, Governador do Estado da Paraíba) deleitando-se com Vitor Hugo, Gustave Flaubert, Oscar Wilde, José de Alencar e Machado de Assis...Pensei com os meus botões, está tudo explicado....

Ariano Suassuna, paraibano de nascimento, pernambucano de coração, advogado, dramaturgo, romancista, poeta, cronista, professor da Universidade Federal de Pernambuco, Secretário de Cultura de Pernambuco, imortal da Academia Brasileira de Letras, Doutor Honoris Causa da UFRN, defensor incansável de uma identidade nacional, do seu amado sertão nordestino e do nosso sentimento de brasilidade...

Não, não estou de luto, estou em festa por ter sido contemporâneo deste gênio da literatura nacional que passa agora a figurar no panteão onde figuram os nordestinos Gonçalves Dias, José de Alencar, Castro Alves, Aluísio de Azevedo, Artur Azevedo, Rachel de Queiroz, Patativa do Assaré, Manuel Bandeira, Câmara Cascudo, Graciliano Ramos, João Cabral de Melo Neto, Gilberto Freyre, entre outros...

Morre Ariano Suassuna, nasce o Shakespeare Brasileiro!


Raimundo Salgado Freire Júnior.




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