domingo, dezembro 05, 2010

Fanatismo – Florbela Espanca – Livro: de Soror de Saudade



Minh’alma, de sonhar-te, anda perdida
Meus olhos andam cegos de te ver!
Não és sequer razão de meu viver,
Pois que tu és já toda a minha vida!

Não vejo nada assim enlouquecida… 
Passo no mundo, meu Amor, a ler
No misterioso livro do teu ser
A mesma história tantas vezes lida!

 “Tudo no mundo é frágil, tudo passa…”
 Quando me dizem isto, toda a graça
 Duma boca divina fala em mim! 

 E, olhos postos em ti, vivo de rastros:
 “Ah! Podem voar mundos, morrer astros,
 Que tu és como Deus: princípio e fim!


 Este soneto foi musicado pelo cantor Raimundo Fagner.

6 comentários:

  1. Esse é "O SONETO".
    Traduz em 4 estrofes (dois quartetos e dois tercetos) toda a paixão sentida por esta poetiza e absorvida por mim.
    Só há uma correção a ser feita: no 1º verso da última estrofe onde diz "(...)vivo de rastros:" deveria ser "(...)DIGO de rastros:"
    Sou sua eterna fã!
    PS.: Da poetiza e do Poeta, meu chefe.
    rsrsrsr
    http://drzem.blogspot.com/2010/07/belos-poemas-que-viraram-musicas.html

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  2. No livro que tenho está impresso "VIVO DE RASTROS",pág. 67 do livro SOROR DE SAUDADES. Mas obrigado pelo comentário, o soneto é realmente uma obra de arte.

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  3. Esse Fagner é muito,muito esperto. Freire é verdade que a Florbela suicidou-se e que era apaixonada pelo próprio irmão, que era pra ele que ela fazia versos apaixonados?

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  4. Segundo as más línguaS,sim. Inclusive, há um dos seus sonetos que, ao meu ver,retrata muitíssimo bem esse tão vererado e exacerbado incesto (pois contam que ele também a amava).

    _Amiga_

    Deixa-me ser a tua amiga, Amor,
    A tua amiga só, já que não queres
    Que pelo teu amor seja a melhor
    A mais triste de todas as mulheres.

    Que só, de ti, me venha magoa e dor
    O que me importa a mim? O que quiseres
    É sempre um sonho bom! Seja o que for,
    Bendito sejas tu por mo dizeres!

    Beija-me as mãos, Amor, devagarinho...
    Como se os dois nascessemos irmãos,
    Aves cantando, ao sol, no mesmo ninho...

    Beija-mas bem!... Que fantasia louca
    Guardar assim, fechados, nestas mãos,
    Os beijos que sonhei pra minha boca!...

    _:p_

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  5. A relação de Florbela com o seu único irmão, Apeles Demóstenes da Rocha Espanca, tem sido motivo de análise comum a quase todos os estudiosos da vida da poetisa.

    Aos olhos dos seus contemporâneos, e de muitos dos seus detratores, Florbela mantinha com o irmão uma relação de carácter incestuoso, o que não parece ter fundo de verdade.

    Apeles era quem lhe estava intelectualmente mais próximo e, simultaneamente, representava o elo com a infância e o ponto de apoio firme da poetisa. Quando oscilava entre um sentimento de desvalorização de si própria, para que a quisessem (expresso nos seus lamentos e ansiedade), e o desejo de ser valorizada (através do reconhecimento das suas obras), era a influência de Apeles que a conduzia ao equilíbrio.

    No entanto, a ansiedade surge quando, em 1927, Apeles decide tirar o curso de piloto-aviador, e o desequilíbrio instala-se quando, a 6 de Junho, Apeles falece, vítima da queda, no Tejo, do hidro-avião que pilotava. (Florbela vai guardar dois destroços do avião, que encontra). É o maior choque da vida da poetisa, que se confronta com o absurdo da morte, precisamente no momento em que se começava a adaptar à família do terceiro marido. Desse violentíssimo choque resulta um agravamento da doença de Florbela, que nunca mais é a mesma. Ao mesmo tempo, daí resulta um crescendo na sua obra, em função do confronto com a estranheza da morte, e, até mesmo, uma reviravolta na sua escrita, que após a morte de Apeles se orienta para a prosa.

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