quinta-feira, novembro 21, 2013

O Amor Que Não Ousa Dizer Seu Nome (Soneto XXXII)



“O Amor que não ousa dizer seu nome”
Bateu-lhe à porta ao acaso, um dia.
E ele, inebriado pela cotovia
(que paira à janela, mas depois some...),

sentiu crescer, súbito, na alma, uma fome
de algo que, até então, desconhecia.
Desejo... estranheza... culpa... agonia...!
Desce aos umbrais, na angústia que o consome.

...porém, depois das lágrimas enxutas,
chamou a cotovia, deu-lhe frutas,
e sorveram, um no outro, a própria essência.

E ambos, nessa atração de semelhantes,
Num cingir de músculos, os amantes
Ergueram-se aos portais da transcendência.



Oscar Wilde

quinta-feira, novembro 14, 2013

Poesia em Soneto: Vencedor - Augusto dos Anjos (1844-1914)



Toma as espadas rútilas, guerreiro,
E á rutilância das espadas, toma
A adaga de aço, o gládio de aço, e doma
Meu coração – estranho carniceiro!
Não podes?! Chama então presto o primeiro
E o mais possante gladiador de Roma.
E qual mais pronto, e qual mais presto assoma,
Nenhum pôde domar o prisioneiro.
Meu coração triunfava nas arenas.
Veio depois de um domador de hienas
E outro mais, e, por fim, veio um atleta,
Vieram todos, por fim; ao todo, uns cem…
E não pude domá-lo, enfim, ninguém,
Que ninguém doma um coração de poeta!


Augusto do Anjos (Eu e outras poesias, L&PM Pocket, p.86)

segunda-feira, novembro 04, 2013

Sugestão de Leitura - O Retrato de Doryan Gray - Oscar Wilde



Acabei de reler o único romance do genial escritor irlandês Oscar Fingall O'Flahertie Wills Wilde, mais conhecido como Oscar Wilde, sua obra prima O Retrato de Dorian Gray.

Dorian Gray era um um jovem londrino de rara beleza, um verdadeiro Deus Grego na acepção da palavra, tanto que serviu de modelo para que o talentoso pintor, e apaixonado por Dorian, Basil Hallward, o pintasse em uma tela extraordinária que, de tão perfeita, levou o próprio Gray a se apaixonar pela própria pintura.

Influenciado por Henry Wotton, um crítico social da era vitoriana, aristocrata cínico e defensor do hedonismo, o até então ingênuo Dorian Gray começa a levar uma vida dupla de prazeres homo e heterossexuais pelo guetos e pela High Society londrina.

O raposa velha do Henry Wotton deturpa tanto a mente de Dorian que este trata com desdém até o suicídio de Sibyl Vane, o primeiro grande amor de Dorian, uma jovem atriz que interpretava personagens shakespeareanos em um teatro de terceira categoria.

Com o passar dos anos Dorian permanece jovem, enquanto o seu retrato envelhece, fica enrugado e mostra todos os sinais dos pecados e da vida dissoluta de Dorian. Todas as mágoas, as dores, as contrariedades, os crimes de Dorian são retratados pelo seu quadro que fica escondido no sótão de sua mansão, para que ninguém descubra seu segredo: o retrato captou e reflete sua alma.

O retrato de Dorian Gray é uma obra-prima que reflete o brilhante frasista que Oscar Wilde era e sua completa aversão às convenções sociais da Inglaterra do século XIX. Embora seja um retrato da decadência moral, é uma enredo profundamente filosófico que nos leva a refletir sobres os porquês da vida. 

Recomendo que leiam cada parágrafo com atenção, pois não é uma leitura fácil; é um texto cheio de argumentos e tem que ser digerido com calma para não se perder o foco no enredo.


Raimundo Freire.

sexta-feira, novembro 01, 2013

Crônica: Você Está Namorando?




Uma amiga minha, obviamente sem nenhum interesse, me veio com essa pergunta assaz perturbadora: você está namorando? A resposta foi automática e indubitável: sempre! Sim porque invariavelmente associamos a palavra namorar com o relacionamento entre duas pessoas, no sentido de cortejar, de arrastar a asa por alguém, mas nem sempre é assim!

Existe um algo mais que transcende o simples ator de cortejar, falo do enamorar-se, enamorar-se no sentido amplo, de apaixonar-se, encantar-se por algo, ou por alguém. Veja bem, eu disse "algo", isso implica que podemos nos encantar por objetos ou coisas, não necessariamente  por pessoa. Talvez por isso haja tanta confusão e tem gente que se apaixona por coisas e não por pessoas, ou o que é pior, apaixona-se pelas coisas que a pessoa tem..

Sou obrigado a confessar que sou um enamorado convicto, de carteirinha mesmo, sou enamorado pela vida, pelo milagre de estar vivo, respirando os doces aromas que a vida oferece, com saúde para trabalhar, pelo dom de poder falar com meus amigos, pela alegria de fazer caminhadas na praia, pela magia de mergulhar nos meus livros, pelo impagável prazer de ver a alegria no sorriso de meus filhos, ou no sorriso dos meus pais, no abraço de um velho amigo.

Então sim, eu namoro, namoro sempre, namoro o por do sol, namoro a poesia, namoro escrever, namoro aguar o meu jardim, namoro o cheirinho bom do meu carro, namoro o cheirinho de livro novo, namoro a minha casa limpinha, namoro a chuva, namoro o por do sol, namoro o canto dos pássaros, namoro o time do meu coração, namoro sempre, namoro até a minha namorada, porque sem abraços, sem beijos, sem sorrisos, a vida não teria a menor graça.

Só não aconselho que você namore sem antes enamorar-se. Não seja um dileto praticante da filofobia. Quando se toca o corpo antes de tocar a alma nasce a ilusão e quem acredita em ilusões tem que se acostumar a conviver com a dor da solidão. O corpo que você namora vai envelhecer, vai murchar; mas a alma, o caráter, a gentileza e o carinho da pessoa que você se encanta, se apaixona, se enamora, isso sim, você vai levar para toda a eternidade.

Namore, mas antes enamore-se. Enamore-se, mas antes enamore-se por si mesmo. Seja feliz com a própria vida, com as próprias pernas, com ou sem namorado(a), seja feliz. Pois, namoro nem sempre é sinal de felicidade, ao contrário, pode ser sinal de muita dor de cabeça. Afinal, Você namoraria a alguém que não namoraria a si mesmo(a)?



Raimundo Freire.



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